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Os participantes da 19ª Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, em 19 de novembro de 2024.

De Baku a Belém: onde fica a bioeconomia?

É preciso ampliar recursos para países e setores com potencial bioeconômico
Renata Piazzon,
25.11.2024

Renata Piazzon e Luana Maia, diretora-adjunta da Nature Finance

Três décadas após o Rio de Janeiro ter sido palco da criação dos tratados internacionais (chamados Convenções-Quadro) das Nações Unidas sobre Clima, Biodiversidade e Desertificação, a cidade voltou a ser cenário de um momento histórico. Na Cúpula do G20, pela primeira vez, o grupo dos países mais ricos e responsáveis por 80% das emissões de gases de efeito estufa reconheceu o potencial da bioeconomia para promover o crescimento econômico inclusivo.

Os dez Princípios de Alto Nível sobre Bioeconomia, adotados pelo bloco, delineiam como o modelo pode impulsionar um desenvolvimento sustentável, equilibrando fatores econômicos, sociais e ambientais com benefícios para a natureza e as pessoas. O grupo reafirmou a importância do multilateralismo e da cooperação pelo clima, reiterando os compromissos com o Acordo de Paris.

A presidência brasileira no G20 foi inovadora ao inserir assuntos de natureza no maior mapa financeiro global. E os membros do grupo merecem reconhecimento por aprovarem no documento final iniciativas que tratam de incentivo a mecanismos para financiar serviços ecossistêmicos e soluções baseadas na natureza.

A África do Sul, próxima presidência rotativa do bloco, anunciou que continuará em 2025 o trabalho da Iniciativa do G20 sobre bioeconomia, criada pelo Brasil e apoiada por uma coalizão de organizações do setor privado, academia e sociedade.

Mas o tempo é um fator crítico –2024 caminha para ser o ano mais quente da história. O mundo enfrenta inúmeros eventos extremos –as chuvas devastadoras no Rio Grande do Sul (que causaram prejuízos de R$ 13,3 bilhões para os municípios), os furacões sequenciais na Flórida, a seca severa que afeta comunidades ribeirinhas da Amazônia, região com papel-chave na regulação do clima mundial.

Frente à nova realidade, a bioeconomia tem um papel cada vez mais importante. Oferece uma maneira de reestruturar a economia, protegendo a natureza e valorizando os serviços ambientais, com geração de emprego e renda.

Com a aceleração das mudanças do clima, há urgência de ação e de novas formas de financiamento e governança climática. O momento de agir é agora. Precisamos de arranjos inovadores, como blended finance (que combina recursos públicos e privados para projetos com impacto positivo), e do engajamento de setores estratégicos –financeiro, privado, academia– na discussão e implementação de mecanismos eficazes de financiamento para o clima e a biodiversidade.

A cada ano, US$ 7 trilhões são investidos em atividades que impactam negativamente a natureza no mundo, o equivalente a cerca de 7% do PIB global. Isso mostra que as instituições financeiras e o setor privado precisam fazer parte da solução, redirecionando investimentos para atividades que protejam, gerenciem e restaurem o meio ambiente.

Sabemos que isso exige sistemas robustos de monitoramento e avaliação, como a ferramenta NatureAlign, desenvolvida pela NatureFinance, que auxilia instituições e tomadores de decisãoa alinharem fluxos financeiros com resultados positivos para a natureza.

Apesar da falta de apetite dos países ricos para o financiamento ambiental, evidente na Conferência do Clima em Baku (COP29), acreditamos que haja espaço para avançar na bioeconomia, especialmente com o Brasil liderando esse movimento até a COP30, em Belém, a primeira na Amazônia. Precisamos acelerar iniciativas promissoras, como mercado de carbono, recém-aprovado no Brasil, e o de crédito de biodiversidade de alta integridade. Não há tempo para deixarmos decisões que deveriam ter sido tomadas em Baku para Belém.

Mesmo com incertezas no cenário global, amplificadas com a eleição nos Estados Unidos, há uma janela de oportunidade para avançar em mecanismos de financiamento que promovam equidade, ampliando recursos para países ricos em natureza e setores com potencial de desenvolvimento bioeconômico. A bioeconomia não é só uma possibilidade, mas uma realidade em mais de 60 países, como mostra o estudo “A Bioeconomia Global”.

O Brasil tem potencial de se tornar um líder global nessa agenda, atraindo investimentos internacionais e soluções tecnológicas que servirão de exemplo para o mundo.

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