A oportunidade de o Brasil retomar influência na agenda global
Os holofotes do mundo estão voltados para o Brasil. Primeiro, em decorrência dos sinais da resiliência da democracia do país, que, sob constantes ataques, superou questionamentos e ameaças. Depois, devido à retomada da agenda ambiental pelas novas forças políticas que assumiram o governo federal e alguns governos subnacionais. O contexto permitiu que portas fechadas nos últimos 4 anos começassem a se abrir novamente, seja por meio de mercados para os produtos brasileiros ou espaços em debates multilaterais nos quais o Brasil retomou a sua posição.
Nem mesmo algumas declarações erráticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofuscaram o interesse pelo Brasil, o que oferece uma oportunidade de exercermos um papel único na agenda global. O país é um dos poucos capazes de estabelecer diálogo com diferentes parceiros internacionais e construir as pontes necessárias para o enfrentamento de alguns dos principais desafios do século 21.
O otimismo da comunidade internacional é evidente: em recente reunião do Funders Table, grupo global de fundações filantrópicas dedicadas à mitigação das mudanças climáticas, ficou visível o quanto os participantes dos mais diversos países estavam dispostos a parar para ouvir os brasileiros.
Esse cenário de retomada do conhecido soft power brasileiro dá ao país a chance de se posicionar como um ator-chave nas mais diversas negociações multilaterais, e especialmente sobre o clima. O mundo sabe que a descarbonização e a segurança climática passam pelo papel do Brasil, por sua agricultura tropical, pela sua concepção contemporânea de segurança energética e de transição industrial e pelas novas economias associadas à biodiversidade. É hora de o país mostrar que está pronto para exercer essa função.
Nesse cenário, a Amazônia terá papel central. Além da grande extensão territorial, é na derrubada da floresta e na mudança no uso que se dá para as terras da região que vem a maior parte das emissões de gases do efeito estufa do país. É consenso que a busca pelo limite de 1,5˚C no aquecimento do planeta depende da Amazônia.
Algumas oportunidades já estão colocadas na mesa. Na primeira quinzena de agosto, ocorre em Belém, no Pará, uma cúpula de presidentes dos países amazônicos, com os chefes de Estado dos países integrantes da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica). Em dezembro, o Brasil assume a presidência do G20, grupo das maiores economias do mundo. E, finalmente, em 2025, quando o Acordo de Paris completa uma década, é forte a expectativa para a realização da COP30 no Brasil.
A efetivação e os futuros resultados da atuação transversal do novo governo na agenda socioambiental também será essencial para que essa oportunidade brasileira de impactar a agenda global perdure. O momento é de atenção, portanto, para alguns dos fatores que podem eventualmente reverter a situação favorável à inclusão do Brasil como ator relevante no cenário internacional.
O Congresso Nacional saiu da eleição de 2022 dominado por partidos de direita e centro refratários ao estabelecimento de leis mais progressistas, o que pode definir o tom da legislatura atual. O novo governo não tem maioria no Congresso e as mudanças climáticas ainda são um tema que divide a sociedade brasileira, já bastante polarizada. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal devem também concentrar o debate público nas CPIs que foram instaladas nas casas: das ONGs, do 8 de Janeiro e do MST.
Também não se deve esperar resultados muito positivos nos dados de desmatamento no curto prazo. Apesar de as políticas de combate à derrubada da floresta terem ganhado força desde janeiro, é importante ressaltar que parte dos números de 2022/2023 já estão contratados, uma vez que os dados vão de julho de um ano a junho do ano seguinte. É muito importante que se consiga dar clareza sobre essa situação para que a opinião pública não se oriente de forma equivocada.
Por fim, é necessário ressaltar que o sucesso da agenda ambiental, especialmente na região amazônica, depende de ações que conectem preservação com desenvolvimento econômico e social local. A floresta, afinal, está alicerçada em um contexto que une vários atores: a ciência, o clima, a sociedade civil, as forças produtivas, a cooperação internacional e, principalmente, as quase 30 milhões de pessoas que nela vivem.
O planeta depende da Amazônia de pé, do Brasil de pé e da influência que o país pode ter com sua capacidade de construir pontes e entendimentos no cenário internacional.