O Brasil que já entrega: soluções de agora para o clima do futuro
Renata Piazzon e Marcelo Furtado*
Enquanto o mundo debate caminhos, o Brasil já tem parte das respostas. Atravessamos um momento decisivo em que a emergência climática exige ação imediata, e a corrida por soluções sustentáveis se intensifica em escala global. Mas, enquanto o diagnóstico da crise é amplamente conhecido, as soluções reais, escaláveis e economicamente viáveis ainda recebem pouca visibilidade.
Com a presidência da COP-30, em 2025, e sua realização em Belém, no coração da Amazônia, o Brasil está sob os holofotes. Temos a rara oportunidade de liderar, mas não apenas pelo discurso e, sim, pelo exemplo. O país já tem um conjunto robusto de soluções que respondem simultaneamente à crise climática, à perda de biodiversidade e ao desafio do desenvolvimento justo. E o mundo precisa conhecer isso.
ntre as soluções maduras, destacam-se tecnologias como o plantio direto, que protege o solo, reduz emissões e melhora a produtividade agrícola; o avanço dos bioinsumos, que reduzem a dependência de fertilizantes químicos; e o protagonismo do país na geração de energia renovável. Em 2023, o Brasil foi o 6º maior produtor de energia solar do mundo, e em 2024, 91% das novas usinas de geração elétrica foram eólicas ou fotovoltaicas.
O país já demonstra, de várias formas, como alinhar conservação e geração de valor. Temos mais de 220 milhões de hectares preservados no setor privado graças ao cumprimento do Código Florestal — um ativo ambiental sem paralelo no mundo.
A expansão das florestas plantadas com espécies nativas se apresenta como um caminho promissor, amparado por políticas públicas como o Programa Arpa, maior iniciativa de conservação de florestas tropicais do planeta.
Na economia circular, ainda em fase de ascensão, 85% das indústrias brasileiras já adotam práticas como reúso de embalagens, reciclagem e uso de biomateriais. Com a iminente Política Nacional de Economia Circular, a tendência é de avanço sistêmico, com benefícios ambientais e competitivos.
Outras soluções ainda são promissoras, como o uso de biomassa oleaginosa residual para biodiesel em áreas já ocupadas pela cana-de-açúcar; o desenvolvimento do combustível sustentável de aviação (SAF) a partir da macaúba, uma planta nativa de alto potencial energético; e o incentivo à agricultura regenerativa em larga escala, capaz de restaurar solos e capturar carbono.
Todos esses exemplos foram recolhidos pelo relatório “Soluções em Clima e Natureza do Brasil”, produzido pelo Instituto Arapyaú e o Instituto Itaúsa justamente para colocar o país – e a ação – no centro da pauta climática.
A publicação também é uma resposta ao apelo da própria presidência da COP 30, que tem mobilizado sociedade civil e setor privado a saírem da zona do discurso e assumirem compromissos práticos.
Organizada a partir de entrevistas com 66 especialistas e ancorado em evidências de mercado, a publicação reúne mais de 70 soluções brasileiras em quatro setores críticos: agricultura e pecuária, florestas, energia e economia circular.
O que esses exemplos mostram é que o Brasil não parte do zero. Temos conhecimento técnico, marcos regulatórios, cadeias produtivas consolidadas e vantagens comparativas: clima tropical, biodiversidade, abundância de recursos naturais e uma sociedade civil ativa.
O desafio, agora, é dar escala, coordenar esforços e atrair investimento para consolidar um ecossistema de soluções que tenha impacto não só no nosso país, mas no mundo.
A importância desse relatório está exatamente aí: em organizar o que já existe, tornar visível o que está em construção e desenhar caminhos viáveis para o que ainda precisa nascer.
É uma contribuição concreta à agenda internacional, num momento em que o Brasil se posiciona como hub global de soluções climáticas. Em vez de repetir diagnósticos, o relatório oferece um mapa de onde estamos, para onde vamos e como chegar até lá.
Na prática, esse esforço exige capital, articulação institucional e disposição para assumir riscos estruturantes. São investimentos que não geram retorno imediato, mas pavimentam o futuro. Exigem apoio ao que ainda está em fase de incubação, à formação de cooperativas, à governança de cadeias produtivas, ao acesso a crédito e assistência técnica.
Mas o retorno (social, econômico, ambiental) é proporcional ao desafio. O Brasil pode liderar uma nova economia com maior produtividade e positiva para o clima, a natureza e as pessoas. Uma economia próspera que poderá financiar nossas necessidades de adaptação, mitigação e de garantia de uma transição justa com desenvolvimento sustentável.
A COP-30 não é o ponto final. É o ponto de partida. O que está em jogo não é apenas nossa imagem internacional, mas a chance de moldarmos, com protagonismo, o futuro que queremos habitar. O Brasil já começou a entregar. Agora, cabe a nós garantir que essas entregas ganhem escala, visibilidade e impacto global.
*Marcelo Furtado é head de sustentabilidade do Instituto Itaúsa.