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Em Manaus, para falar de Amazônia

Uma rede de mais de 500 líderes e outros especialistas se reuniu, há 2 anos, formando uma ampla aliança pela Amazônia e, esta semana, desembarcou em Manaus para seu primeiro encontro físico para debater e propor movimentos fortes em defesa e desenvolvimento da região amazônica. A rede “Uma Concertação para a Amazônia” reúne os nove Estados da Amazônia Legal em torno de uma agenda comum voltada ao desenvolvimento sustentável da região.
Renata Piazzon,
15.05.2022

Uma rede de mais de 500 líderes e outros especialistas se reuniu, há 2 anos, formando uma ampla aliança pela Amazônia e, esta semana, desembarcou em Manaus para seu primeiro encontro físico para debater e propor movimentos fortes em defesa e desenvolvimento da região amazônica. A rede “Uma Concertação para a Amazônia” reúne os nove Estados da Amazônia Legal em torno de uma agenda comum voltada ao desenvolvimento sustentável da região. Durante o primeiro encontro, algumas dessas lideranças se posicionaram, propuseram linhas de atuação mais assertivas e teceram duras críticas ao atual momento de descaso em torno da região. “A Amazônia não é um problema que deve ser resolvido”, avisou o empresário amazônico, Denis Minev.

Os debates deste primeiro encontro presencial, de fato dentro da Amazônia, giraram em torno dos assuntos “Saúde” e “Economia” voltados à região. Para isso, a rede contou com a experiência de alguns especialistas com atuação notória dentro deste território. A ideia é consolidar linhas de ações e propostas para o desenvolvimento e conservação da Amazônia, com intuito de levar aos quatro cantos do mundo e aos governos estratégias para a região. 

Para falar sobre a Saúde, o encontro contou com a explanação da Dra. Érika Pellegrino, da UFPA/Altamira, e do médico sanitarista Eugênio Scannavino Netto, representante do projeto Saúde e Alegria, há 30 anos atuando com saúde e educação no rio Tapajós. “A pandemia deixou muito claro que a saúde é básica para a preservação da floresta. É uma emergência crônica na saúde. Ninguém faz nada sem a saúde, nem preservação”, disse Eugênio ao inaugurar os debates.

Na busca de soluções em Saúde para a Amazônia, Eugênio usa sua experiência de 30 anos na região do rio Tapajós, e aponta os caminhos. “Quando chegamos na Amazônia, encontramos comunidades morrendo de diarréia, por tomar água do rio sem tratar. Iniciamos com prevenção e saneamento básico, com distribuição de cloro, mais educação e higiene. Coisa muito básica. Só com isso a mortalidade infantil, principalmente, despencou. Então, foi desencadeado o processo de mobilização comunitária, que contaminou um processo global de desenvolvimento nas comunidades”, conta. 

A partir dessa mobilização, há cerca de 30 anos, o grupo passou a trabalhar com barcos-hospitais, unidades de saúde fluvial muito bem equipadas, com laboratório, mesa ginecológica, vacinação, dentista e unidade semi-intensiva. “Mas, juntamente com o Ministério da Saúde, do ministro Alexandre Padilha, em meados de 2010, repassamos os barcos para o SUS. Hoje, há mais de 60 embarcações dessas na Amazônia e Pantanal, mas muitas não estão funcionando por falta de gestão pública.Estamos indo para um outro nível, que é o da gestão pública da Saúde na Amazônia. Esse é o atual problema”.

Os barcos-hospitais passam em todas as comunidades a cada 40 dias. Ou seja, 8 vezes por ano. A resolutividade dos barcos é de 83% quando se tornou política pública. 

Atualmente, o projeto Saúde e Alegria está trabalhando com a telemedicina. “Funciona muito bem, apesar dos desafios. Este mês estamos inaugurando 5 pontos de telemedicina em comunidades isoladas. Há desafios, mas essas são soluções”, afirmou o médico sanitarista.

A resolutividade da telemedicina é em torno dos 80%, segundo o médico. “De cada dez pessoas atendidas, apenas duas precisam ir para as cidades. Aí já é outro problema. As cidades pequenas também estão isoladas. Elas até tem Unidades Básicas de Saúde ou postinhos. Mas, eles muitas vezes são pequenos e enfrentam problemas como abastecimento elétrico, água encanada e saneamento. Para ficarmos na área rural: prioridade absoluta água e saneamento, com cloro, coisa simples e equipar UBS com geladeira, energia solar, oxímetro e termômetro, para a unidade poder funcionar”, pontua.

Para ele, a saúde básica nas comunidades ainda ajudaria a manter os povos da floresta protegendo os recursos naturais. “Quantas pessoas que são povos da floresta vão para as cidades porque não têm acesso à saúde nas comunidades?”

Um dos objetivos destes encontros promovidos pela Rede Concertação, é formatar propostas com resoluções extraídas dos debates em prol da Amazônia e propor políticas públicas, mobilizações, projetos e planos de ação. “Precisamos atuar junto às equipes governamentais já nas transições de governos pós-eleições. Qualquer que seja o governo, as propostas para a Amazônia devem ser levadas a sério”, avisa.

Eugênio aponta a saúde como um desafio coletivo. “É assim que deve ser encarada. Se você não usa a máscara, você contamina o próximo. A saúde é um desafio coletivo, que depende de atitudes individuais, atitudes familiares, comunitárias, regionais e, finalmente, planetárias. A pandemia mostrou uma coisa que parece que só os cientistas sabiam, que a gente mora no mesmo planeta”. 

Saúde e ambiente

Em sua fala, a psiquiatra Érika Pellegrino, professora da faculdade de Medicina em Altamira, no Xingu, há 5 anos, contou casos que vivenciou na região de Altamira, dentro de reservas florestais para exemplificar a questão da importância da relação saúde e pertencimento da terra. “Teve um caso de uma comunidade indígena, que as equipes que acompanhavam começaram a trazer muitas demandas relacionadas com dores crônicas, com problemas que eles interpretam como de saúde mental, problemas com alcoolismo entre outras. Quando começam os impactos de Belo Monte, as muitas reuniões na cidade para deliberar sobre o Plano de Compensação de Belo Monte, eleva a circulação entre cidade e comunidade, começam a haver problemas com abuso de álcool dentro das comunidades”, lembra a especialista. 

Para ela, até o entendimento da abordagem nas comunidades precisa ser diferenciado. “Não adianta chegarmos com os conceitos ocidentais e tentar colocar o indígena lá. Devemos entender o sofrimento que as comunidades estão vivenciando, quando invadem suas terras e eles não têm para onde ir

“As comunidades tradicionais trazem um tipo de conhecimento diferente. Quem está nos tops de linha de universidades, pensando one health, pensando saúde planetária ainda discute se há conexões entre o ambiente e a nossa saúde. Nas comunidades isso é muito claro. Essa sensação de pertencimento ao território e o quanto é necessário se preservar isso para preservar a saúde das pessoas. É muito claro”, ensina.

Dos debates, a rede Concertação está construindo um movimento que pretende propor mudanças efetivas que tenham a Amazônia e os povos tradicionais como prioridades. “A gente encontra no campo da saúde, assim como em todas as outras demandas, especificidades muito grandes e isso tem a ver com diferenças que são intra regionais, interestaduais, sazonais e de alta complexidade de políticas públicas”, diz a secretaria executiva da Concertação, Renata Piazzon.

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