Como desenvolver a Amazônia por meio da bioeconomia?
O caminho é longo e complexo, mas a aposta é de que a região reúne os ingredientes para dar um salto de desenvolvimento e inclusive ser uma resposta para questões nacionais – desde que haja aporte em ciência, tecnologia, inovação e formação humana, combinado a uma visão de prosperidade. Nesse contexto, o empreendedorismo é visto como instrumento fundamental
É possível vislumbrar um novo “Jeff Bezos” ou “Steve Jobs” ribeirinho ou indígena, capaz de movimentar um capital pujante na Amazônia e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental? Se houver aporte em ciência, tecnologia, inovação e formação humana, combinado a uma visão de prosperidade para a região, atores da bioeconomia dizem que sim. O caminho é longo e complexo, mas a aposta é de que a Amazônia reúne os ingredientes para dar um salto de desenvolvimento e inclusive ser uma resposta para questões nacionais. Tudo depende de a sociedade pactuar o que deseja para a região amazônica: que seja uma fonte de soluções para a sustentabilidade, ou um local de onde se explora os recursos até a exaustão, deixando no lugar um rastro de destruição, pobreza, ilegalidade e criminalidade?
Com o maior índice de desmatamento dos últimos 15 anos em abril – mês de chuvas na Amazônia –, e a veloz aproximação ao ponto de não-retorno, a partir do qual a floresta tropical poderá virar uma savana, a conclusão é que um novo modelo socioeconômico para a Região Norte do País nunca se fez tão necessário.
Além de recuperar ações de fiscalização e de punição para coibir a ilegalidade que tem aumentado no território amazônico, será preciso fomentar a economia local de forma que gere renda e empregos para as pessoas, ao mesmo tempo conserve a floresta e os serviços ambientais por ela prestados.
“Empreendedores e empresas têm papel fundamental em reverter o desmatamento”, afirma Mariano Cenamo, cofundador do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), organização que busca soluções para conciliar desenvolvimento socioeconômico com redução das desigualdades e conservação florestal.
Por enxergar na bioeconomia um instrumento poderoso contra o desmatamento, Cenamo também fundou a Amaz há dois anos, a primeira aceleradora voltada a negócios de impacto positivo para a Amazônia. Segundo ele, a meta em 10 anos é investir em 30 negócios, conservar ou restaurar 5 milhões de hectares de florestas, beneficiar 10 mil famílias e alavancar mais de R$ 50 milhões em investimentos das empresas que vão compor o portfólio (mais informações sobre a chamada no quadro abaixo).
Como fortalecer o ecossistema de negócios inovadores na Amazônia e conquistar novos mercados? Esses são os motes de duas lives promovidas pela Amaz em abril, em parceria com a Página22. Na primeira live, voltada à inovação e empreendedorismo, o empresário Denis Minev, diretor-presidente da varejista Bemol e considerado o maior investidor-anjo da região Norte, afirma que o passo primordial é guiar-se pela prosperidade. “Não existe nenhum caminho exceto a prosperidade. Toda sociedade desenvolvida que eu conheço atingiu o desenvolvimento por meio de um setor privado pujante. E, nesse contexto, o empreendedorismo é o principal instrumento. Buscar empreendedores no território amazônico talvez seja a mais interessante iniciativa possível, e com maior impacto no longo prazo”, diz.
Defensor do uso sustentável da floresta, Minev condena a ideia de cercá-la e mantê-la preservada enquanto há pobreza e mazelas sociais ao redor – lembrando que a Amazônia abriga por volta de 25 milhões de pessoas, apresentando indicadores sociais inferiores ao restante do País, tais como a expectativa de vida. “No interior, é comum morrer aos 50, 60 anos de idade, e é comum a desnutrição. Nesse ambiente, você não vai fazer conservação ambiental”, afirma o empresário. Segundo dados de 2019 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Amazônia Legal, formada por nove estados, apresenta o menor Índice de Desenvolvimento Humano do País.
Em seu entendimento, o governo muitas vezes desperdiça recursos tentando, sem sucesso, resolver problemas, enquanto um empreendedor é uma verdadeira máquina de gerar benefícios para a sociedade na forma de riqueza, empregos e impostos, o que retroalimenta a prosperidade. “Quando conseguirmos ter centenas de empreendedores, o trabalho do governo, das outras instituições e mesmo da filantropia [em desenvolver a região] acaba ficando muito mais simples”, afirma.
Visão clara e estratégica
Na Amazônia não existe solução fácil, o cenário é de complexidades. Mas, para destravar as soluções para a região e o País, o empresário defende que o Brasil tenha uma visão mais clara sobre o que deseja da Amazônia: que seja uma grande impulsionadora do futuro do País ou um enorme parque nacional para os brasileiros visitarem nas férias?
Trata-se uma mudança de visão: “Para construir a nova economia na Amazônia, é preciso entender que a Amazônia é central para a estabilidade climática global e caminho de desenvolvimento do Brasil’, afirma Renata Piazzon, diretora do programa de Mudanças Climáticas do Instituto Arapyaú e secretária executiva de Uma Concertação Pela Amazônia, iniciativa que reúne 500 integrantes.
Fernando Russo, fundador da empresa de investimentos Meraki Impact, chama atenção para a necessidade de descolonizar o olhar historicamente lançado sobre a Amazônia, e deixar que a população local fique no centro das decisões. “A maior parte da solução deve vir da Amazônia e para a Amazônia”, diz.
“Se o governo assim decidir, a Amazônia pode ser uma das grandes respostas para o crescimento do País e para o País se repensar”, diz Minev. Mas, em sua avaliação, o Brasil nunca se recuperou totalmente da recessão econômica de 2015 e, em seguida, da pandemia. Com isso, o País “está cansado e pensando pequeno”, voltado apenas a questões ligadas à sobrevivência.
Esse pensamento curto-prazista estende-se à Amazônia, olhando para a taxa de desmatamento nos próximos meses. “Embora isso seja importante, estou mais preocupado com o desmatamento de 2030 do que com o de 2023”, diz o empresário. “Não houve na Amazônia o foco em empreendedorismo e prosperidade, somente no meio ambiente”, avalia, dizendo que isso teve reflexos inclusive nas eleições de 2018, em que a região apoiou maciçamente o governo eleito. “O aspecto ambiental é importantíssimo mas, se for desvinculado dos temas empresarial e social, acaba levando as pessoas a votar, com rebeldia, contra essa visão puramente ambiental.”
Uma saída para o longo prazo, a seu ver, está em investir em sistemas produtivos nas áreas de borda de floresta e terras degradadas e mal-aproveitadas, que perfazem mais de 70 milhões de hectares. “Se todo esse território for transformado em Sistemas Agroflorestais (SAFs) com produção intensiva, isso já faz do Brasil um país rico”, exemplifica Minev. Outras oportunidades, ainda desperdiçadas, são a produção de proteína em áreas já desmatadas, por meio da piscicultura, e o uso econômico da biodiversidade. “A biodiversidade é considerada um grande patrimônio brasileiro, mas patrimônio tem de gerar dividendos. Por isso, é preciso investir em ciência para buscar esse tipo de retorno e para encontrar soluções para a humanidade”, defende.
Minev lembra que, ao longo da História, os cérebros na Amazônia dedicaram-se a desenvolver cadeias produtivas no caso do guaraná e da borracha, enquanto há uma quantidade imensa de produtos da biodiversidade a ser desenvolvida. Os cérebros não precisam ser somente grandes cientistas, vão desde empreendedores até os técnicos, e requerem investimento ao longo de gerações.
Russo, da Meraki, cuja sede fica na Holanda, conta que naquele país o investimento de impacto já está se tornando mainstream. “No futuro, tudo será investimento de impacto”, garante ele, que atua na mudança de sistemas alimentares, por meio da agricultura regenerativa. Ele mesmo é um pecuarista, dono da empresa Pasto Vivo, em que o gado é criado em sistema agroflorestal, integrado com a produção de castanhas – grãos de qualidade nutricional que nascem em árvores e, portanto, contribuem com a floresta em pé.
A Amazônia, portanto, tem as condições de ser protagonista na tendência mundial por novas proteínas. Buscam-se em todo mundo novos ingredientes, alternativas mais nutritivas e formas diferentes de processar comida, por meio de biotecnologia e produção em laboratório. “Há cientistas que trabalham na região amazônica há décadas, mas muitas vezes o conhecimento fica restrito ao âmbito acadêmico e não vira produto”, diz. Por isso, Russo defende o incremento tecnológico da região a fim de aproveitar os recursos e criar negócios – não apenas relacionados a produtos como a serviços ecossistêmicos, como mercado de carbono e a monetização da biodiversidade.
Na linha de ingredientes amazônicos, a Amazônia Smart Food, startup de Manaus, desenvolveu hambúrguer vegano de tucumã e linguiça e almôndegas de açaí, já comercializando para a região Sudeste e Sul.
Mas os resultados, de forma geral, ainda são modestos e de baixa escala. Da mesma forma que a Embrapa, por meio da pesquisa aplicada, transformou a região Centro-oeste em grande produtora de alimentos, poderia ter a mesma ambição, volume de recursos, estudos, pesquisas na Amazônia, por exemplo, para desenvolver SAFs. “Precisaria investir milhões para se obter esse resultado no futuro, mas essa aposta requer uma visão de nação”, diz Minev.
Investidores e empreendedores
Para Renata Piazzon, o maior desafio não é a falta de capital, mas de bons negócios que atraiam capital disposto a investir e a escalar. Daí a necessidade de uma visão integrada que valorize a parceria entre filantropia, setor público e setor privado. O capital filantrópico, em sua avaliação, é tático para auxiliar na estruturação de novos modelos porque tem como características a agilidade e a flexibilidade. Com isso, consegue apoiar esses empreendimentos de uma forma paciente – especialmente na Amazônia, em que a maturação nos negócios é mais lenta –, para que depois o negócio possa acessar um volume maior de recursos, junto a fontes convencionais.
Minev lembra que toda empresa grande já foi pequena e teve um empreendedor que sonhou. Ele que sonha que o próximo “Guilherme Leal” (cofundador da Natura), “Jeff Bezos” (Amazon) ou “Steve Jobs” (Microsoft) seja um ribeirinho ou indígena da Amazônia. “Estamos perdendo mais uma geração de jovens e de futuros talentos, por falta de perspectiva de trabalho. Não tem nada no nosso DNA que não nos permita ser um desses grandes empresários”, diz.
“Embora a Amazon nada tenha a ver com produtos da região, Bezos percebeu que esse é um nome que vende, que chama a atenção de todo o mundo”, observa Cenamo. Conectar a Amazônia ao mundo e vice-versa é justamente a missão do primeiro negócio do portfólio da Amaz, a Manioca. A empresa paraense, liderada por Joanna Martins, atua com ingredientes regionais e ajuda a desenvolver suas cadeias produtivas conservando as florestas.
A escolha da Manioca, de trabalhar com 18 produtos da biodiversidade amazônica, faria qualquer consultor de negócios dizer que é loucura, que precisa se focar em poucos ativos para ser bem-sucedido. O modelo escolhido por Martins, no entanto, foge à lógica convencional porque a Amazônia requer um olhar que respeite a sua complexidade. Focar só no cultivo da mandioca, por exemplo, seria como focar só na sojicultura. E isso não representaria a Amazônia, que é plural e pede múltiplos caminhos, ais como o turismo, a indústria de impacto socioambiental, a agricultura agroflorestal e a economia criativa. “Por isso trabalhamos com jambu, priprioca, cipó de alho, tucupi. Trabalhar com esses produtos exige um investimento adicional, para que o consumidor brasileiro os conheça. Seria mais fácil focar em produtos já conhecidos, mas a gente precisa de ousadia”, diz a empresária.
Hackear o sistema
O empreendedorismo na Amazônia requer uma ousadia extra, pois, além de enfrentar as dificuldades inerentes a qualquer startup no Brasil, é preciso lidar com um cenário mais desfavorável, marcado por dificuldades logísticas, burocracia, alta informalidade e competição com a ilegalidade. “Precisa ter vontade de hackear o sistema, porque o mercado será desfavorável”, diz Cenamo.
A tecnologia tende a ser uma arma competitiva fundamental. A Manioca, por exemplo, deu um salto de inovação quando dominou a tecnologia para conservar o tucupi, um caldo típico da culinária paraense que precisa, em condições normais, ser conservado em geladeira. Como comercializar o tucupi para o Brasil e o mundo? Ou mesmo dentro da Amazônia – lembrando que a distância entre as principais capitais, Belém e Manaus, é a mesma entre Belém e São Paulo?
“O fato de o tucupi da Manioca durar um ano fora da geladeira se deve à tecnologia e à inovação, aliadas ao conhecimento tradicional. E também ao capital disposto a arriscar”, diz Martins.
Para Joanna Martins, a conectividade é um grande desafio para vencer as distâncias, mas essa pode ser chave para uma grande virada na Amazônia. A conectividade, juntamente com educação, tecnologia e conhecimento científico, é que vão agregar valor para o produto amazônico. “Os investimentos feitos na região no passado, em borracha e cacau, por exemplo, precisam ser estudados para entender onde foi que se errou, porque se tornaram commodities, mas para a Amazônia ficou muito pouco”, diz. Ela lembra que os europeus foram quem criaram o padrão de mercado para o cacau, enquanto para a borracha foram os americanos. O erro do Brasil, a seu ver, foi não agregar valor, desenvolver conhecimento e nem trazer a tecnologia para o processo de produção.
A mandioca a inspira porque só desta planta existem mais de 32 produtos desenvolvidos pelo saber tradicional na cultura indígena. Falta, agora, desenvolver o potencial industrial, que é gigantesco. Isso engloba trabalhar o negócio, a tecnologia, o maquinário e a marca. “Batem em nossa porta querendo comprar ingrediente amazônico, mas, se vendermos para fora sem desenvolver a tecnologia aqui, vamos subverter a lógica de desenvolvimento local, capaz de envolver as pessoas, as comunidades e profissionalizar as cadeias produtivas”, conta.
Russo, da Meraki, diz que é continuamente “atormentado” por investidores internacionais querendo aportar recursos na Amazônia, e o ideal seria montar um fundo early-stage que pudesse receber esse capital. E, na outra ponta, haver um pipeline de bons negócios inovadores, que fossem bem visualizados pelo mercado internacional.
Novos mercados para negócios amazônicos
Para reduzir barreiras geográficas e econômicas, e democratizar o acesso a produtos da bioeconomia amazônica, um dos caminhos mais promissores tem sido o do comércio eletrônico, tema abordado na segunda live promovida pela Amaz. Desde 2020, O Mercado Livre, o maior e-commerce da América latina, trabalha na comercialização de produtos da biodiversidade, funcionando como acesso a mercado para empreendedores e negócios na Amazônia. A experiência da Manioca nessa plataforma é um dos exemplos bem-sucedidos de comércio eletrônico.
Laura Motta, gerente-sênior de sustentabilidade do Mercado Livre, garante que o e-commerce é uma tendência que veio para ficar após a pandemia. Ela cita dados segundo os quais o Brasil é o quarto país do mundo em que esse tipo de canal de vendas mais vai crescer, e o primeiro país entre os latino-americanos. No último ano, o crescimento foi de 12% no Brasil. E tudo isso pode ser usado para estimular negócios da bioeconomia.
O programa Empreender com Impacto, criado pelo Mercado Livre, capacitou e mentorou mais de oito negócios, não só na Amazônia, mas no Cerrado, na Caatinga e na Mata Atlântica. Entre as capacitações, estão estratégias de como vender o produto na plataforma, usar ferramentas, criar anúncios.
Pesquisa feita com clientes do Mercado Livre mostra que 64% dos respondentes mostram-se muito preocupados com questões ambientais, enquanto o número de compradores de produtos sustentáveis cresceu mais de 100% em um ano. Um levantamento da Febraban, em 2020, identificou que mais de 80% dos jovens estavam dispostos a pagar mais por produtos que contribuíssem para a conservação da Amazônia.
Os produtos amazônicos mais procurados hoje pelo consumidor da porção Sudeste e Sul do Brasil são alimentos e bebidas, tais como geleias, molhos, farinhas e cachaças, o que resulta principalmente da ação de trazer chefs de cozinha com sponsors desse tema e da tendência do consumidor de buscar produtos de supermercado. Mas utensílios, artesanato, moda e cosméticos também vêm crescendo, na percepção do Mercado Livre e do movimento Amazônia em Casa, Floresta em Pé, que nasceu de uma iniciativa do Idesam e da Amaz com a Climate Ventures.
Por trás dessas boas notícias, está o esforço para vencer obstáculos relativos à logística e distribuição, armazenamento, estratégia comercial, posicionamento da marca, visibilidade, e construção de narrativas para mostrar que cada produto tem uma história. Como comunicar, por exemplo, o valor de uma pimenta do povo Baniwa, com 3 mil anos de história?
“Ter clareza do impacto é o primeiro passo para uma estratégia comercial bem sucedida”, recomenda Motta. “É preciso também olhar para a experiência de compra até o pós-venda, o design e o storytelling do produto, de modo a agregar valor”. Segundo ela, é necessário investir em marketing digital, “pois o produto não se vende sozinho”, e planejar estoques para quando a demanda aparecer, uma vez que no e-commerce tudo acontece de forma muito dinâmica.
“A gente não vende apenas produtos, a gente vende floresta em pé”, afirma Floriana Breyer, da Climate Ventures, cofundadora do Amazônia em Casa, Floresta em Pé. O movimento nasceu para fazer os produtos da floresta conservada chegarem mais facilmente em São Paulo, o principal mercado consumidor. Os critérios de seleção dos produtos baseiam-se na capacidade de geração de renda para as comunidades tradicionais e ribeirinhas, com desmatamento zero. Segundo ela, a meta, neste ano, é dobrar o faturamento das marcas que estiverem no portfólio.
Para isso, é preciso vencer os obstáculos de logística e custo de frete. Breyer conta que foi criado um centro de distribuição em São Paulo, uma operação focada em B2B (business to business), e em B2C (business to consumer), com campanhas coletivas. Um grande desafio é o como fazer para o produto chegar de forma legal, do ponto de vista formal, diante da grande informalidade que existe na Amazônia.
Tendências
“Está claro para mim que a Amazônia será a próxima tendência”, diz Leticia Feddersen, fundadora da Soul Brasil, startup de quatro anos que atua com ingredientes culinários, com a missão divulgar os sabores e saberes da biodiversidade brasileira com foco na Amazônia. O mundo e o Brasil desconhecem a Amazônia, mas, para ela, isso deve mudar em questão de alguns anos. Na culinária americana, por exemplo, costuma-se eleger o “ingrediente do ano”, que vem de alguma parte do mundo, e os produtos da Amazônia devem entrar nesse radar – o açaí já virou uma febre.
Ela aposta que os sabores amazônicos podem ser consumidos no cotidiano e não apenas de forma esporádica como uma experiência exótica. “Podemos consumir geleia com açaí, não só morango. E usar o tucupi no dia a dia”, exemplifica. Laura Motta, do Mercado Livre, comenta que às vezes o nome do ingrediente não é conhecido, mas você pode apresentar um produto de uma forma que gera interesse no consumidor e depois conta o que está por trás. “A estratégia comercial tem a ver com isso, testar diferentes canais, produtos, narrativas”, diz.
O acesso à matéria-prima e a manutenção de estoques de produtos amazônicos nem sempre é fácil. “Às vezes o primeiro lote não chega do jeito que queríamos, e esses são pontos de melhoria que vamos trabalhando na relação com as comunidades, de modo a atingir os padrões. É uma troca riquíssima”, garante.
Motta concorda que a Amazônia tende a ser uma agenda cada vez mais relevante, não só no e-commerce como em outros canais, como compras corporativas. Breyer lembra que há um interesse crescente pelas chamadas super foods, que são os alimentos do futuro – o camu-camu, por exemplo, é o fruto com maior concentração de vitamina C do mundo – e há muito a se trabalhar em parceria com nutricionistas.
Outras tendências que Breyer identifica são as comidas de preparo rápido e prático, como molhos que dão sabor ao arroz. Além disso, é possível trabalhar em brindes e cestas de fim de ano e há grande potencial de compras de alimentos da biodiversidade amazônica para refeitórios de grandes empresas. “A gente ainda não chegou nesse lugar”. Mas, a depender dos espaços já conquistados e dos cenários que estão sendo desenhados, é só uma questão de tempo.